Green Book — A Polêmica que Circundou o Melhor Filme de 2019

Catharina Gaidzinski
3 min readNov 26, 2020
Foto: Reprodução

8 de maio de 2019.

O filme “Green Book”, com direção e roteiro adaptado de Peter Farrelly, concorreu ao Oscar 2019 em seis categorias, recebendo o prêmio de Melhor Filme e atribuindo os prêmios de Melhor Ator Coadjuvante para Mahershala Ali e Melhor Roteiro para Farrely. Não obstante, mesmo ganhando o status de melhor filme pela academia, não escapou das críticas e foi vítima de grandes polêmicas.

O filme retrata a história de Don Shirley (Mahershala Ali), um doutor em música negro e grande pianista na década de 60, que agenda uma turnê pelos Estados Unidos, mas necessita de um segurança-motorista que o proteja de ameaças racistas vindas da supremacia branca que lhe assiste em concertos de jazz clássico. A história é baseada em fatos reais, e o roteiro é uma adaptação dos relatos de Nick Vallelonga, filho de Tony Vallelonga, o assistente de ascendência italiana de Shirley, apelidado de “Lip”, a partir de sua fama de vigarista e oportunista, já que conseguia tudo na base do diálogo e da persuasão.

O nome “Green Book” fora influenciado pelo guia para afro-ameriano de Victor Hugo Green, “The Negro Motorist Green Book”. Dessa forma, o ‘Green Book’ (ou ‘Livro Verde’, em tradução livre) seria o livreto de “regras” e “precauções” que todo negro na estrada deveria tomar para não se prejudicado ou atacado em decorrência de preconceito, listando também hotéis e restaurantes que lhe dariam asilo quando precisassem.

O livro que dá o nome ao filme é mostrado em poucas cenas. Mesmo assim, sua importância é notável no decorrer da história, já que, de certa forma, abre os olhos de Lip para a realidade que o companheiro tinha de encarar todos os dias; além de que, mesmo com uma grande conta bancária, nem todos são privilegiados o suficiente para poderem sair livres pelo país sem serem presos injustamente, expulsos sem razão de estabelecimentos e proibidos de jantar em restaurantes frequentados por brancos de classe alta.

No entanto, mesmo abordando questões de grande importância de um modo brilhante, a adaptação, de acordo com críticos, se distanciou muito da verdadeira história. A veracidade dos fatos foi muitas vezes negada pelos que a conheciam a fundo, desse modo, a dando fama de fictícia. O irmão de Don Shirley, Maurice, por exemplo, atribuiu à obra um caráter mentiroso e fantasioso, logo depois recebendo um pedido de desculpas por Mahershala, que interpretara seu irmão, por não ter dado tanta atenção as confissões da família sobre o personagem.

Além disso, os familiares de Vallelonga também revelaram que nunca foram contatados pela produção do filme entre as gravações. A viúva de Shirley também critica a romantização da amizade entre Don e Vallelonga, já que, de acordo com ela, não se passava de uma relação profissional.

Dessa maneira, é inegável que “Green Book” tenha criado várias polêmicas e sido vítima de grandes críticas, sendo também julgado como indigno do título de melhor filme. Não obstante, os fãs parecem ter recebido o filme muito bem, e simpatizam com sua abordagem que discute o racismo, a homofobia e a repressão do século passado que, infelizmente, ainda permeia os dias de hoje.

--

--

Catharina Gaidzinski
0 Followers

21 year old Brazilian writer, journalist, musician and actress. In love with rock 'n' roll, food, cats and the color purple. Find me @cathgaidzinski